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Foto do escritorRafaela Manzo

Comunicação autêntica: que diferença faz na vida e nos negócios?

Faz alguns anos que fui apresentada, pela primeira vez, ao conceito original de comunicação não-violenta, cunhado pelo Marshall Rosenberg. Você encontra muitas informações técnicas e teóricas a respeito dessa disciplina, hoje, numa busca rápida pela Internet e no próprio livro do Marshall que tem o mesmo nome (Comunicação Não-Violenta), mas o que quero falar hoje é sobre a possibilidade de efetivamente praticar seus ensinamentos no dia a dia, na vida e no trabalho, com o objetivo de melhorar nossas relações.


Eu prefiro usar o termo comunicação autêntica porque acho que o nome original traz, na essência, a carga da palavra violência e, entendendo melhor seus recursos, percebo que ela ajuda não apenas a melhorar a fala violenta. Ela ajuda a falar, de forma geral - e sabemos que grande parte dos problemas do mundo estão justamente na forma como nos comunicamos uns com os outros. Inclusive (e muitas vezes essencialmente) no tom de voz que a gente usa para falar.


Tentando resumir de forma prática, os elementos da CNV que mais me chamam a atenção e que eu tenho usado muito nas palestras e conversas que faço, por aí, são os seguintes:


Por trás de toda manifestação de violência existe uma necessidade não atendida.


Para mim essa é talvez a compreensão mais difícil, especialmente porque escutei muitas falas violentas durante a minha vida toda e isso me afetou profundamente - mas recentemente consegui (finalmente) entender que todas as pessoas que agiram assim comigo carregavam, em si, uma dor profunda. Essa dor, fruto de uma necessidade não atendida dessas pessoas, infelizmente encontrou uma maneira de se manifestar atingindo outras pessoas com violência. Como essas provavelmente também foram muito atingidas/afetadas.


Exemplo: sabe aquele chefe/cliente/marido que vive gritando com os outros, e às vezes você fica até envergonhado só de presenciar (quando não é o alvo e tem vontade de revidar/sair correndo/chorar)? Provavelmente é um cara cheio de dor. Sofrimento profundo, do tipo mais cruel, sabe? E, pior, ele é incapaz de olhar para ou reconhecer essa dor. Quando você tenta compreender o que pode estar por trás dessa fala violenta (algum abuso, agressão, falta de amor ou proteção na infância), pode experimentar olhar para a pessoa com mais compaixão. E quem sabe até acolher, mesmo com o próprio olhar (que muitas vezes fala mesmo mais que mil palavras) aquela dor. Sim, é um exercício difícil; mas experimente. Esforce-se para não revidar e use uma fala amorosa na contramão da fala agressiva que vem dele. Arrisco dizer que você pode causar uma profunda mudança na vida daquele ser, que só precisa (embora se esforce para não) ser amado.


Observação/fato x opinião


Talvez essa seja a fonte dos maiores problemas de comunicação, no meu ponto de vista. A gente julga, toma decisões, emite parecer baseado em coisas pouco concretas. Quase sempre em opiniões. Julgamentos de coisas que sequer vimos. Costumo dizer que você diferencia fato de opinião de um jeito bem simples. O primeiro pode ser filmado por uma câmera, testemunhado por lentes que veem e ouvem o que está acontecendo. Por exemplo: uma pessoa que falta ao trabalho muitas vezes. Se uma câmera estiver na mesa da pessoa, claro que ela vai apontar a ausência. Fato é o que qualquer um pode ver, sem sombra de dúvida. Opinião é aquilo que você infere, que você julga parecer - mas que quase nunca é, de verdade, um fato. Dizer que alguém está faltando ao trabalho porque é irresponsável, ou porque não se importa com nada, ou por falta de engajamento. Tudo isso é pura opinião. Puro julgamento. Você não pode filmar ou atestar o que está dizendo. Então é julgamento/opinião - e em cima disso nenhuma comunicação pode ser eficiente. Uma pessoa pode faltar ao trabalho porque está doente, porque está cuidando de um ente amado enfermo, porque está atravessando um período de depressão grave e mal consegue se levantar da cama pela manhã. Isso não tem nada a ver com falta de comprometimento/responsabilidade, por exemplo. Muitas vezes, precipitados, julgamos uma situação ou um fato (a ausência pode ser observada, é um fato) tentando adivinhar o que está por trás (doença, irresponsabilidade etc.). E isso poderia ser feito da forma mais simples possível, que muitas vezes sequer consideramos: PERGUNTAR AO OUTRO O QUE ESTÁ ACONTECENDO. Para saber se algo é verdade ou não, a gente precisa simplesmente perguntar. Direto à fonte, sem intermediários. Ficar “supondo” ou tentando adivinhar conversando com colegas, criando ainda mais ruído (e julgamento) pode tornar a vida de uma pessoa, que já é difícil, praticamente impossível. Acredite: eu já passei por isso. Tenha compaixão. Pergunte. Acolha a dor do outro. Um dia pode ser você “do outro lado”, sendo alvo do julgamento ou das opiniões (carregadas de rótulo e/ou julgamento) dos outros. Isso dói. Uma dor que pode nunca passar.


Fato - sentimento - necessidade - pedido


O esquema de Marshall é muito simples de ser aprendido. Ele usa o fato como ponto de partida para uma conversa que poderia ser difícil, por exemplo. Lembre: fato é algo concreto que pode ser filmado - não é sua opinião. Exemplo: seu marido combina de chegar todos os dias para jantar com você e seus filhos, mas efetivamente ele tem chegado pelo menos duas horas atrasado. Esse fato pode ser usado na conversa, por exemplo. Depois do fato narrado, você pode dizer como se sente sobre ele (porque o fato te causa um sentimento, certo?). Você pode sentir, por exemplo, desamparo. Solidão. Tristeza. Insegurança. Há um vocabulário imenso de sentimentos que precisamos aprender a dar nome para usar (dica: tem listas na internet com sugestões de vocabulário se você procurar artigos sobre a CNV - Comunicação não violenta).


Lembre que seu sentimento tem que se orientar pelo fato narrado (não culpar o outro pelo que você sente, por exemplo: me sinto abandonada). Se sentir abandonada tem um julgamento (o outro está te abandonando) e isso não é interessante numa linguagem como a CNV. Use o sentimento que o FATO te causa (tristeza, solidão etc.). A necessidade por trás do sentimento também deve ser dita: por exemplo - eu preciso de apoio. Eu tenho necessidade de pontualidade, rotina (rotina é uma necessidade, sabia? Também tem listas de necessidades que você acha facilmente na internet), segurança, proteção, colaboração etc. Por fim, expresse claramente o pedido: gostaria que você tentasse chegar no horário combinado mais vezes. E, adicional por minha conta, veja de que forma você pode ajudar seu marido para que ele atenda seu pedido (de que forma posso ajudar você a conseguir chegar mais cedo, no horário que combinamos?). Uma conversa que poderia resultar numa grande confusão, como essa, pode ser uma oportunidade sensacional de você buscar com o seu parceiro (ou seu chefe, colega, subordinado etc.) uma real compreensão dos mundos um do outro, com suas dificuldades e necessidades (que muitas vezes não são compartilhadas rotineiramente). Também não é uma prática simples ou fácil - mas uma vez que você a tenha aprendido, vai entender por que usar é uma das armas mais poderosas para promover mais paz (e evitar todas as tantas guerras, fora e dentro).


Dica importante: cuidado com o tom de voz que você usa durante essas conversas. Se ele for muito alto, vocês vão disputar atenção e causar um desconforto por uma necessidade que não está sendo atendida (de calma e paz, por exemplo, que é uma necessidade minha BEM importante). Se alguém começa a falar grosso ou alto comigo meu cérebro simplesmente desliga e eu saio mentalmente da discussão (ou saio literalmente, mesmo).


Outra dica é revelar a sua intenção com aquela conversa. Se você está tentando dialogar com uma pessoa para buscar o melhor entendimento, é sinal de que aquela pessoa e aquela relação são importantes para você. Diga isso antes de começar a conversa. Revele essa importância. Isso pode “baixar a guarda” e diminuir os muros dos envolvidos.


Ah, por último e não menos importante. ESCUTE. Ouça de verdade. Com ouvido, olhos e coração. Não ouça para responder. Não ouça pensando no “contra-ataque”. Conversas não são nem precisam ser guerras ou disputas do ego. Aliás, tire o ego da conversa; deixe só o coração, a fala e a escuta envolvidos. E amor. Porque o amor é o antídoto de toda violência (parta de você ou do outro). Use, por isso, sem moderação: amor, compaixão e bondade. Que essas sejam suas melhores “armas” em toda conversa, difícil ou não.


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